Primeira piloto acredita que voos comerciais trazem “de volta a vida” ao aeroporto de Ponta Porã

Nivalcir Almeida

O retorno do voos comerciais a Ponta Porã representa um novo momento na História da aviação local. Uma História rica, com detalhes saborosos e até mesmo, surpreendentes.

A aviação sempre esteve presente nos momentos marcantes da História da cidade. A primeira pista de pouso de que se tem notícia, funcionou durante muitos anos num terreno que hoje se localiza próximo à sede da Fundação de Cultura e Esportes de Ponta Porã. Ficava ao lado do “Castelinho”, prédio histórico, quase destruído, que abrigou durante muitos anos as forças de segurança pública da cidade, tanto quando Ponta Porã pertencia ao antigo Estado de Mato Grosso, quanto no período em que foi Território Federal e possuía a Guarda Territorial.

As atividades aéreas em Ponta Porã foram iniciadas com a fundação de um aeroclube, em setembro de 1941, no local onde atualmente está localizado o Castelinho. O aeroclube contava com duas aeronaves modelo Paulistinha – o CAP-4 fabricado no país pela Companhia Aeronáutica Paulista –, que atendiam à população da fronteira Brasil-Paraguai, com necessidades de transporte urgente.

Por ser uma das principais cidades do então Mato Grosso (Ponta Porã, na primeira metade do século 20 possuía cerca de 20 mil habitantes, perdendo apenas para Cuiabá, a capital, que possuía mais de 25 mil), o movimento era intenso. E, como não havia estradas nem a ferrovia (que só chegou no ano de 1953), o meio de transporte mais eficiente era o avião.

De acordo com a Infraero, que administra o atual Aeroporto Internacional de Ponta Porã, localizado próximo à fronteira com o Paraguai, nas imediações dos bairros Granja e Andreazza, zona sul da cidade, tornou-se um dos mais importantes de Mato Grosso do Sul.

Porém, pouco utilizado nas últimas três décadas. Antes disso, nos anos 1990, a TAM, hoje Latam, manteve um voo diário para São Paulo, utilizando jatos Fokker 100.

Agora, com o retorno dos voos comerciais, a partir deste 31 de janeiro de 2022, por parte da empresa Azul (serão voos conectando a cidade a Campinas, interior de São Paulo), a cidade vive um clima de modernidade, mas também de retorno ao passado. Quem sempre gostou de aviação, está vibrando com o retorno dos voos comerciais. “Finalmente vamos poder sair daqui em voos que nos conectam com os grandes centros brasileiros e mundiais. É uma notícia maravilhosa”, declara Arcenia Martins dos Santos, professora aposentada que marcou a História de Ponta Porã por ser a primeira mulher a obter o brevê, autorização para pilotar aviações na cidade.

Foi no ano de 1990. Arcenia foi influenciada pelo então marido, sargento da Aeronáutica, Djalma Ferreira dos Santos, em dos mais hábeis pilotos privados de todos os tempos em Ponta Porã.

Ela conta que Djalma insistiu bastante para que ela aprendesse a pilotar, incentivando-a na realização de um sonho de criança. “Sou de origem humilde, família pobre de Bela Vista. Vim para Ponta Porã na adolescência e aqui pude realizar meus sonhos. Formei-me professora e aprendi a pilotar”.

Banho de óleo queimado na pista do Aeroporto Internacional de Ponta Porã. Batismo a primeira mulher piloto da cidade. Na foto Arcenia ao lado do filho Siddharta e do marido Djalma com a filha do casal, Anandha, no colo e o instrutor de voo do aeroclube local.

Arcenia foi a única mulher da turma que se formou no ano de 1979. A formatura, o tradicional batismo com um banho de óleo queimado, na pista, ao lado do avião, Cessna 150. Foi um momento histórico pois se tornou a primeira mulher de Ponta Porã a obter a habilitação de piloto privado.

Ela conta que voou bastante com o marido, fazendo viagens para diversos lugares do Brasil e do Paraguai. Só parou de voar após o falecimento de Djalma, em 2006.

Na carteirinha emitida pelo Departamento de Aviação Civil do Ministério da Aeronáutica, consta o registro de licença de numero 28.824. “Voei muito atendendo pessoa e empresas. Durante muitos anos levei funcionários do Banco do Brasil para Bela Vista. Naquela época não havia as transferências que temos hoje. Tudo era por meio de papel e o serviço de transporte de malote exigia rapidez e segurança. Era o que fazíamos”, relata Arcenia que fez uma revelação na entrevista que resultou neste material exclusivo para o Ponta Porã News.  Ela contou que seu primeiro vôo, pilotando sozinha um avião, foi para atender um rapaz que precisava ir a Dourados. “Praticamente surrupiei a chave do avião que pertencia ao nosso aeroclube e ficava aos cuidados do meu marido que era instrutor de vôo, e levei o moço até Dourados. Não havia nenhum piloto mais experiente disponível no aeroporto e o rapaz falou que não tinha problema de voar comigo. Foi emocionante. A realização de um sonho”.

Arcenia é bela-vistense e nasceu no ano de 1943. Veio para Ponta Porã em 1956, onde estudou e se tornou professora. Aposentada, formou-se em Pedagogia e Letras.

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