Nesta sexta-feira (18/7), o município de Ponta Porã, carinhosamente conhecida como a “Princesinha dos Ervais”, celebra 113 anos de emancipação político-administrativa. Uma trajetória marcada por resistência, identidade cultural rica, vocação econômica diversificada e o cenário único de integração com o Paraguai, o que a torna uma das cidades mais singulares do Brasil.
A data remete ao Decreto nº 617, de 18 de julho de 1912, que criou oficialmente o município. Apesar da instalação oficial ter ocorrido apenas em 25 de março de 1913, foi a data da criação que, décadas depois, passou a ser adotada como referência oficial para o aniversário da cidade.
Antes da chegada dos colonizadores e da formação do núcleo urbano, o território que hoje compreende Ponta Porã era habitado por povos indígenas Guarani, especialmente os Nhandevas e Caiuás. A ocupação sistemática da região ocorreu após a Guerra do Paraguai (1864-1870), quando o Exército Brasileiro começou a ocupar a fronteira.
Foi a erva-mate, abundante nos ervais nativos, que impulsionou a economia da região. Em torno desse recurso natural, formaram-se as primeiras comunidades, até que, em 1900, Ponta Porã foi elevada à condição de distrito e paróquia subordinada ao município de Bela Vista. A oficialização como município viria 12 anos depois, coroando o desejo de autonomia de uma população em pleno crescimento.
O município recém-criado abrangia uma enorme extensão territorial, chegando a incluir áreas que hoje pertencem a diversas cidades sul-mato-grossenses, como Dourados, Amambai, Mundo Novo, Iguatemi, Maracaju, Bela Vista, Jardim, Porto Murtinho, Sidrolândia e até Campo Grande.
Essa imensa área territorial reforça a importância histórica de Ponta Porã na ocupação do sul do estado. Ao longo do século XX, vários distritos foram se emancipando, reduzindo o território original, mas fortalecendo a cidade como polo regional.
De município a território federal
Um dos episódios mais curiosos da história de Ponta Porã foi sua transformação em Território Federal. Em 1943, durante o governo de Getúlio Vargas, o município deixou de integrar Mato Grosso e passou a ter status de território autônomo, com administração direta do governo federal. Essa condição especial durou até 1946, quando o território foi extinto pelo presidente Eurico Gaspar Dutra e reincorporado ao estado.
O breve período como território federal deixou marcas na estrutura urbana e institucional da cidade, que passou a receber maior atenção do governo central e investimentos em infraestrutura.
Crescimento econômico e força do agronegócio
Nas últimas décadas, Ponta Porã consolidou-se como um importante centro econômico da região sul do estado. Se no passado a economia girava em torno da erva-mate e da extração de madeira, hoje a cidade é impulsionada pela agricultura mecanizada, com destaque para o cultivo de soja e milho, além da pecuária de corte.
Um exemplo emblemático dessa vocação rural é a antiga Fazenda Itamarati, que foi por anos referência mundial em produtividade e tecnologia no cultivo de soja. A área deu origem ao atual distrito de Nova Itamarati, considerado o maior assentamento da América Latina e um dos mais populosos de Mato Grosso do Sul.
Fronteira viva: integração com Pedro Juan Caballero
Ponta Porã se destaca ainda por estar situada em uma fronteira seca com Pedro Juan Caballero, no Paraguai. As duas cidades formam um conurbado urbano com mais de 200 mil habitantes, que compartilham cultura, economia e até mesmo a língua. É comum ouvir por aqui o português, espanhol e guarani em uma mesma conversa, além do uso frequente de reais, guaranis e dólares no comércio local.
Essa integração dá à cidade uma dinâmica única, com características cosmopolitas que contrastam com a tranquilidade típica do interior. A fronteira também impulsiona o comércio e o turismo, com milhares de pessoas cruzando diariamente entre os dois países.
Cultura preservada e memória histórica
A identidade cultural de Ponta Porã é mantida viva por instituições como a Academia Pontaporanense de Letras, que incentiva a literatura e resgata a história local. Outro espaço importante é o Museu da Erva-Mate Santo Antônio, fundado em 1997, que reúne documentos, objetos históricos e uma biblioteca especializada com mais de 800 títulos.
Além disso, a cidade promove diversos eventos culturais e festivais típicos, que vão desde festas juninas até encontros literários e exposições fotográficas.
Curiosidades que marcaram a trajetória da cidade
Ponta Porã já teve quase 40 mil habitantes em seu território nos anos 1930, mesmo antes da divisão com outras cidades.
A população sempre valorizou o acesso à documentação civil. A criação da paróquia em 1900, por exemplo, foi motivada pela necessidade de registrar casamentos, nascimentos e propriedades localmente.
A cidade é uma das únicas do país onde o comércio funciona diariamente com três moedas diferentes circulando simultaneamente.
Até hoje, há forte influência do idioma guarani nas conversas cotidianas, especialmente entre moradores mais antigos e comerciantes de fronteira.
Um futuro construído com raízes profundas
Ao completar 113 anos, Ponta Porã reafirma seu papel como cidade estratégica para o Mato Grosso do Sul, combinando riqueza histórica, identidade cultural, potência agrícola e vocação para a convivência harmônica entre povos. Com os olhos no futuro, mas sem esquecer as raízes, a cidade continua a escrever sua história com orgulho, diversidade e muito trabalho.