Soja: agricultores devem redobrar a atenção às pragas de solo

A semeadura da soja 2023/24 no Brasil começou em vários estados, principalmente em Mato Grosso cuja estimativa é semear cerca de 12,2 milhões de hectares. Entre os cuidados necessários neste início de ciclo, além da umidade da terra, está o controle das pragas de solo.

Entre as principais pragas de solo que podem estar presentes no momento da semeadura estão os percevejos, lagartas, corós e besouros, que segundo especialistas, podem causar prejuízos com o consumo de sementes, raízes e plântulas, sucção de seiva e introdução de patógenos.

Pesquisadores pontuam que pode ocorrer ainda a redução do estande e vigor das plantas são algumas das consequências e causam reflexos na produtividade.

Alerta para Mato Grosso

Em Mato Grosso, maior produtor de soja do país, que têm a perspectiva de colher 43,7 milhões de toneladas do grão na safra 2023/24, especialistas alertam que é importante que os produtores rurais fiquem atentos à incidência, principalmente, de corós, percevejo castanho-da-raiz (Scaptocoris castanea e S. carvalhoi), lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus), Spodoptera frugiperda e coleópteros como o cascudinho (Myochrous armatus), além das espécies desfolhadoras (Diabrotica speciosa / Cerotoma arcuata / Megascelis sp e Maecolaspis sp).

Lucia Vivan, doutora em Entomologia e pesquisadora da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), orienta que para corós e percevejo castanho-da-raiz é importante ter o histórico das áreas, pois esses insetos se mantêm nelas e podem abranger áreas maiores no decorrer dos anos. O mesmo tem sido observado para o cascudinho, espécie com população e abrangência de ocorrência cada vez maior.

Para S. frugiperda, a especialista explica que a população presente na área está relacionada à cultura na entressafra, sendo que essa espécie apresenta grande número de plantas hospedeiras. No entanto, de forma geral, áreas com tigueras de milho, milheto e gramíneas podem ter populações altas e lagartas residentes. “Estas terão o hábito de lagarta-rosca, causando corte de plantas na emergência”, pontua.

Há ainda mais uma espécie que pode estar presente no início de desenvolvimento da cultura da soja, o percevejo barriga-verde (Diceraeus melacanthus). A praga está relacionada a tigueras de milho, plantas de cobertura e daninhas. A pesquisadora orienta que o tratamento de sementes pode ser eficaz no controle, mas o manejo de invasoras auxilia na redução de populações iniciais que serão potenciais problemas para o período reprodutivo da soja e para o milho segunda safra. “Nesse caso, trata-se de um manejo no sistema de produção”, acrescenta.

Controle no pré-plantio da soja

A pesquisadora da Fundação MT frisa que para a lagarta elasmo é importante acompanhar as condições climáticas, pois anos com distribuição irregular e períodos de veranico no momento de plantio da soja podem favorecer essa população. Áreas com plantio de sorgo na segunda safra também podem ter infestações superiores. Lucia explica que o tratamento de sementes deve ser utilizado, mas ainda assim, em períodos secos, é possível que ocorram ataques e perdas de plantas.

Segundo a entomologista, para S. frugiperda o monitoramento no pré-plantio é importante, pois lagartas maiores, a partir de segundo instar, não serão controladas pelo tratamento de sementes. “Nesse caso, deve-se fazer um controle pré-plantio com manejo na palhada, com dessecação antecipada ou uso de produtos recomendados para esse momento”, esclarece.

Já para o cascudinho, o tratamento de sementes minimiza os danos, no entanto, essa população apresenta fluxos de emergência de adultos, sendo necessário o monitoramento para decisão de aplicações foliares. “Pode-se dizer o mesmo para os coleópteros desfolhadores”, completa a pesquisadora.

Culturas hospedeiras são fontes de alimentos

Lucia Vivan alerta ainda que as culturas hospedeiras podem proporcionar fontes de alimento e sobrevivência das pragas (ponte verde), resultando em maior número de gerações/ano. Portanto, de acordo com a especialista, o tratamento de sementes, o acompanhamento das previsões de precipitações e o histórico da área e populações presentes na palhada para a decisão de dessecação antecipada, são fundamentais para minimizar os problemas.

O clima tem grande influência e períodos com baixa precipitação merecem mais atenção, pois as plantas se desenvolvem menos e ficam mais suscetíveis ao ataque de pragas. Além disso, quando o clima está mais seco diminui a eficiência dos produtos em geral. Outro ponto importante, conforme orienta a especialista, é que podem ocorrer surtos de lagartas, uma vez que a precipitação é um regulador natural dessas populações.

Monitoramento é a palavra chave

Com o monitoramento das áreas, afirma Lucia Vivan, o produtor saberá qual ou quais pragas estão presentes e a dimensão do ataque, assim, poderá fazer a escolha das ferramentas. Para pragas de solo como corós e percevejo castanho-da-raiz, a entomologista explica que a única ferramenta é o tratamento de sementes ou a pulverização no sulco de plantio, “pois não há produtos aplicados na parte aérea que atinja as raízes, que é onde os insetos se alimentam e causam danos”.

O mesmo se aplica para lagarta elasmo, pois esta praga penetra na planta de soja à altura do colo, cavando uma galeria ascendente no interior do caule, alimentando-se do mesmo, e as pulverizações na parte aérea não são efetivas devido a esse hábito. “Por isso, é tão importante conhecer o histórico da área, pois essas medidas devem ser tomadas no momento do plantio”, acrescenta a doutora.

Com relação aos coleópteros desfolhadores, devem ser combinadas as ferramentas tratamento de sementes e pulverizações foliares. Isso porque ocorrem fluxos de emergência de adultos dessa espécie ao longo do tempo e o tratamento de sementes apresenta um período curto de atuação, porém, muito importante para o estabelecimento da cultura.

Por fim, para a lagarta S. frugiperda é necessário o monitoramento semanal a fim de identificar aumentos populacionais e tomar a decisão de controle em relação à população e danos em plantas. “As ferramentas para seu manejo são uso de feromônio para interrupção de acasalamento, uso de produtos biológicos e produtos químicos”, finaliza a pesquisadora da Fundação MT.

Canal Rural*

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