Aquidauana se prepara para ‘salto’ no Ecoturismo

Silvio Andrade

Uma das sub-regiões do Pantanal, com 4,9% da área do bioma, Aquidauana se prepara para consolidar-se como um dos principais destinos de ecoturismo de Mato Grosso do Sul. Distante apenas 139 km de Campo Grande, o município tem atrativos e potencial para a prática de esportes radicais e aquáticos, pesca esportiva, vivência pantaneira e observação de aves (birdwatching).

Com a pavimentação pelo Governo do Estado do trecho de maior beleza cênica da Estrada-Parque (MS-450), entre os distritos de Palmeiras (Dois Irmãos do Buriti) e Piraputanga (Aquidauana), a região vem se tornando uma das mais visitadas. O acesso permeia os vales e a morraria da Serra de Maracaju, o piscoso Rio Aquidauana e a antiga ferrovia Noroeste do Brasil.

A chegada do asfalto impulsionou o turismo local, atraindo novos investimentos em infraestrutura e serviços e a melhoria dos equipamentos já existentes. A tendência é a Estrada-Parque, além de todos os seus encantos, tornar-se um polo gastronômico à base do peixe. Novos restaurantes estão se instalando nas encostas da morraria, onde predominam os pesqueiros.

O uso desse potencial de forma ordenada e sustentável é uma preocupação do Governo do Estado. A Semagro (secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Ageicultura Familiar) pretende desenvolver ações em conjunto com o município, envolvendo também o trade, para fomentar o ecoturismo preservando o que a região tem de melhor, sua beleza cênica.

“A pavimentação da MS-450 promoveu um aumento substancial no acesso das pessoas à região e o governo vai estar presente nesse trabalho da prefeitura de organizar o setor, por meio da sustentabilidade e inovação, e estimular o turismo interno, que tem sido o foco de novas campanhas promocionais”, disse Ricardo Sena, secretário-adjunto da Semagro, em visita recente aos atrativos de Piraputanga.

Reordenar o setor

Apostando nesse “boom”, a prefeitura de Aquidauana realiza pela primeira vez o inventário e uma pesquisa do fluxo turístico, ferramentas fundamentais, segundo o prefeito Odilon Ribeiro, para nortear o plano municipal do turismo, previsto para meados de 2022. A secretaria de Cultura e Turismo já tem data para lançar o Observatório de Turismo: janeiro do próximo ano.

Trecho sinuoso da MS-450, totalmente asfaltada: rio, ferrovia, morraria e sitios arqueológicos. Foto: Edemir Rodigues
“Para estabelecermos uma política de fomento a um segmento que terá grande peso na economia local precisamos conhecer a nossa realidade, contemplando toda a cadeia produtiva e outros setores que podem agregar”, diz Youssef Saliba, secretário de Cultura e Turismo. “Com o plano de turismo vamos reorganizar o setor e definir estratégias de promoção do destino.”

O diagnóstico nas áreas urbana e rural, iniciado em fevereiro deste ano, está sendo elaborado pelo Núcleo de Turismo da secretaria. Concluído na Estrada-Parque de Piraputanga, o levantamento identificou nada menos do que 54 pequenos e grandes empreendimentos operando, entre pousadas, pesqueiros, acampamentos e restaurantes.

Interesse turístico

O número de visitações deste atrativo, que integra uma Área de Proteção Ambiental (Apa) de 10.108 hectares, criada em 2000, também surpreende: num espaço de 30 dias, entre maio e junho do ano passado, no pico da pandemia do coronavírus, barreiras sanitárias instaladas na estrada registraram a passagem de seis mil turistas, a maioria de Campo Grande.

Para a diretora do Núcleo de Turismo, turismóloga Adriana Carla Araújo Caravassilakis, a estrada ecológica consolidará Aquidauana como polo de ecoturismo, atividade já solidificada na região do Pantanal, onde operam seis pousadas em antigas fazendas de gado. Uma delas, a Aguapé, recebeu no ano passado 5.446 turistas, mesmo com todas as restrições por conta da covid-19.

Ponte velha, ligando Aquidauana e Anastácio sobre o Rio Aquidauana: construção inglesa de 1921
O inventário em curso, segundo a turismóloga, abrange quatro áreas de interesse turístico (estrada-parque, aldeias indígenas e áreas rural e urbana, esta compreendida pelo centro histórico da cidade e outros atrativos, como o Parque Natural da Lagoa Comprida, o Mercadão e o Museu de Arte Pantaneira, em reforma) e serviços essenciais de apoio, como borracharias, supermercados e postos de combustível.

Cultura indígena

O criterioso trabalho será concluído em dezembro e definirá as políticas públicas de desenvolvimento turístico, bem como os impactos na economia e as perspectivas de geração de emprego e renda numa região onde predominam a indústria, os serviços e a agropecuária. Será também uma ferramenta importante para reordenar a atividade turística local.

Observação da fauna na Pousada Aguapé, um dos seis hotéis-fazendas no Pantanal de Aquidauana
Adriana Caravassilakis ressalta que o diagnóstico apontará as demandas, algumas já identificadas, como a capacitação de mão-de-obra nas áreas de hotelaria e gastronomia. A prefeitura articula a realização de cursos com apoio do Governo do Estado e Sebrae, parceiros também na formatação do turismo, ao lado do Comtur e da Universidade Estadual (UEMS).

Paralelamente, o município busca fortalecer e valorizar um dos produtos que atrai muitos turistas: a cultura indígena. Em agosto, o prefeito Odilon Ribeiro entrega o primeiro Museu de Referência da Cultura Terena, que funcionará na antiga estação ferroviária da comunidade de Taunay. No local também será instalado um Centro de Atendimento ao Turista (CAT).

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